

21 de Junho de 2023
Mirela Victoria, uma história de superação e amor
Era difícil ver aquele serzinho minúsculo, que naquele momento deveria estar dentro de mim, ali, conectado a inúmeras máquinas com uma única função de mantê-lo vivo. No começo eu nem fazia idéia do que estava acontecendo, na minha cabeça eu tive meu bebê um pouco (ou talvez muito) antes do tempo, ele ficaria um pouco ali para ser examinado pelos médicos e em no máximo uma semana iríamos pra casa, ela iria crescer, ganhar peso e ia ficar tudo bem, que inocência minha.
Foram longos 3 meses e 17 dias para podermos ir para casa. Ela nasceu a noite, mal pude vê-la pois ela já foi sendo levada às pressas para longe de mim para ser conectada aos aparelhos, na hora só consegui ver que era muito pequena, e como eu não podia levantar só consegui ver direito no outro dia pela manhã, enquanto isso meu marido ia olhar ela e ficava fazendo fotos e vídeos para me mostrar, ela estava apenas com o rostinho de fora. No outro dia cheguei a uti neonatal bem cedo, quando entrei confesso que fiquei assustada com a sala cheia de mini bebês e máquinas barulhentas para todo lado, bem diferente do que eu imaginava, meu marido me levou para incubadora que ela estava e quando a vi meu coração apertou, ela era a menor da sala, tão frágil, tão indefesa, só queria poder tocá-la, beijá- la e dizer que tudo ficaria bem.
Procurei uma médica a fim de obter informações sobre o estado de saúde dela e quando cheguei nela a resposta foi "Sua filha é prematuro extremo, nasceu com 24 semanas e com 580 gramas, no momento está com 510 pois perdeu peso, normalmente com esse peso os bebês não sobrevivem e quando sobrevivem podem ter muitas sequelas, ela está entubada, com infecção generalizada e o estado é grave". Naquele momento nem consegui pensar, subi para o quarto e desabei, foram os dias mais longos da minha vida.
Depois disso as coisas só pioraram, foram inúmeras infecções, icterícia, hemorragia pulmonar, duas paradas cardíacas (eu estava presente em ambas e meu coração quase parou também), distúrbios de glicose, anemia, displasia broncopulmonar, retinopatia da prematuridade, crise convulsiva, pneumonia aspirativa, sepse, doença metabólica óssea, várias transfusões de sangue, várias tentativas fracassadas de sair do oxigênio, várias apneias e outras complicações.
Cheguei ao ponto de não querer perguntar mais nada aos médicos pois a cada manhã que eu chegava lá era um problema novo e eu estava exausta. Foram meses nessa rotina, passava noites acordada, pois eu tinha que levantar de 3 em 3 horas e descer para a uti pra tirar leite para ela tomar pela sonda. Quando dormia acordava com o coração apertado pedindo a Deus para não receber nenhuma notícia ruim, não tem como explicar, só quem já passou sabe.
Nesse meio tempo também conheci pessoas maravilhosas, as mães dos outros bebês da uti, com quem mantenho contato até hoje, alguns infelizmente não sobreviveram e nós mães sentimos a dor como se fosse o nosso. Também conheci vários profissionais da saúde que nos ajudaram muito, enviados de Deus para nossa vida, o cuidado, carinho e dedicação com a minha filha foi de extrema importância para nós naquele momento, estarão sempre no meu coração e nas minhas orações.
Hoje mirella Victória a minha princesinha, tem 4 anos, já está na escola, é muito inteligente, linda, saudável, se desenvolvendo muito bem e sem nenhuma sequela, desafiando todos os prognósticos da medicina. Eu sempre fui grata a tudo que tenho, porém hoje consigo ser ainda mais, acordar cada manhã e tê-la ao meu lado me faz sentir honrada, privilegiada e imensuravelmente amada por Deus por ter sido escolhida para presenciar esse milagre de perto.
Eu tenho a plena convicção de que não há nada nesse mundo que a gente peça a Deus com fé que ele não venha a realizar, isso, esse é o segredo, A FÉ! Não há nada mais lindo, real e concreto do que ela. Hoje meu conselho a todas as mamães que passam pela mesma situação é: Vai com fé, pois vai passar! O processo é lento, cansativo, exaustivo e doloroso e é preciso força de vontade pra passar por tudo isso ileso, mas o final é recompensador.
(Relato da mamãe Gabriela enviado em 2022)


