17 de Fevereiro de 2014

Ellen, o grande amor de nossas vidas


“Fui aconselhada a escrever sobre essa experiência (a mais emocionante da minha vida até o momento) para desabafar, acalmar (acho um pouco que não, pois estou emocionada agora) e dar forças para as mães e pais que estão passando por momento parecido com este, pois aprendi que nenhuma experiência é igual a outra, então não devemos fazer comparações. Já digo previamente: é um relato longo, pois sou detalhista e não quero resumir minha história, então, se você tem paciência, vamos lá!

Histórico de saúde e gestação

Bom, aqui começamos. Tenho 30 anos, sou diabética tipo I (tomo insulinas) desde meus 21 anos, sou casada há quase 7 anos e eu e meu marido estávamos tentando engravidar há mais ou menos 1 ano e meio, apesar de já sabermos da dificuldade na gravidez que enfrentaríamos devido ao diabetes.

Enquanto estávamos de férias, em abril de 2013, durante viagem ao Nordeste, descobrimos que estávamos grávidos com a certeza de um exame de sangue após o positivo do teste de farmácia. Nossa, que alegria! Uma mistura de emoções tomou conta de nós: alegria, felicidade, ansiedade, enfim... tudo de bom que uma pessoa pode sentir tomava conta de nós, cheios de planos para o nosso bebê tão sonhado!

Os meses foram passando, a minha gravidez foi muito abençoada, pois não senti um enjôo sequer, apenas as “benditas” cólicas no início da gestação, sintoma muito comum, conforme explicou a minha obstetra. As minhas consultas pré-natais eram cumpridas rigorosamente, nunca esqueci de tomar um suplemento vitamínico sequer, bem como não deixei de tomar minhas sagradas injeções diárias de insulina. Também tomava minha pequena dose diária de anti-hipertensivo, pois antes mesmo de engravidar, fui diagnosticada como pré-hipertensa, e meu cardiologista me receitou um remédio bem fraquinho, pois já sabia do meu desejo de engravidar e, caso isso acontecesse, este remédio não afetaria o bebê de forma alguma. Parei definitivamente com o consumo de refrigerantes e café, moderei o consumo de frituras e demais alimentos nocivos à saúde, já pensando em tudo o que transmitia ao meu bebê.

Tudo corria muito bem, já sabíamos o sexo do nosso bebê no 3º ultrassom, com 16 semanas (4 meses): uma menina, que se tornou nossa princesinha refletida na decoração do quartinho, nas roupinhas lindas e delicadas e na escolha do nome, por mim, há vários anos já definido: Ellen!

Foi quando, na 28ª semana (7 meses), comecei a perceber alterações absurdas nas medições da pressão arterial. De 13x8, valor normal durante a gestação, subia repentinamente para 17x11, 16x10, e assim se mantia, após repetidas medições. Detalhe: eu não abusava do sal nas refeições e tomava minhas medicações sagradamente, e não sentia absolutamente nada fora do normal que justificasse aqueles valores altos. Foi quando meu cardiologista aumentou a dose dos anti-hipertensivos e recomendou repouso, o que a minha obstetra também recomendou, me afastando totalmente do meu trabalho (sou policial militar, mas trabalho em serviço administrativo).

A internação

Na 31ª semana de gestação (final de 7 meses), tomei 3 doses diárias consecutivas de corticoide (celestone), pois a minha médica havia informado sobre a certeza de antecipação do parto, por eu ser diabética, e estas injeções iriam fortalecer os pulmõezinhos da Ellen, e depois deveria tomar 1 injeção por semana até a 34ª semana. Fui avisada que estas injeções alterariam para mais as minhas glicemias, mas meu endocrinologista liberou o uso delas, desde que eu monitorasse constantemente minhas glicemias e aumentasse o esquema de insulina.

Assim o fiz, quando depois da 3ª dose desta injeção, ainda na 31ª semana, fui internada às pressas no hospital por estar com a pressão no valor de 20x12, e glicemias alteradíssimas, muito altas, fatores estes que me desesperaram, pois já sabia da pré-eclâmpsia e sua periculosidade para mim e minha princesa. Fiquei internada por 3 dias, para controle desses valores, quando também fui submetida a um ultrassom para saber se estava tudo bem com minha princesa, sendo informada pelo médico plantonista que ela estava com peso abaixo do normal, mas, fora isso, estava tudo bem, órgãos bem formados, coraçãozinho batendo forte e teste da “buzina” com sucesso. A minha obstetra estava ciente de tudo o que aconteceu, e falou para eu aparecer em seu consultório assim que tivesse alta.

Assim foi feito. A minha mãe, que mora no Rio de Janeiro, veio para Goiânia e me acompanhou na consulta com a obstetra, pois meu marido, que sempre me acompanhou em todas as consultas e exames, não poderia neste dia, pois estava de serviço. Eu estava bem, mais tranquila, pois a pressão havia sido controlada e as glicemias também, então achava que não havia motivos para alarde. Foi quando ela me “jogou a bomba” dizendo que era altamente recomendado que eu não engravidasse mais, pois se isso acontecesse, ou eu ou meu bebê correríamos risco de vida, sendo necessário optar por mim, pois sempre a mãe tem prioridade em caso de vida ou morte em gestações.

O meu mundo desabou, pois, além da Ellen, eu e meu marido tínhamos planos para mais um filho, e me descontrolei , chorando, pois uma tristeza e medo muito grande tomavam conta de mim naquele momento. Alguns minutos depois, ela falou pra eu fazer um Doppler na sala ao lado, com o marido dela, também obstetra, para saber como estava o fluxo do cordão umbilical, pois dependendo do resultado, eu seria submetida a uma cesariana, uma vez que a Ellen não estivesse recebendo o fluxo necessário, estaria em sofrimento e não ganharia o peso necessário, e seu desenvolvimento seria melhor fora do meu útero, numa incubadora.

Já fui amedrontada fazer este exame, pois ela saiu da sala dela e me acompanhou para a outra sala, onde se encontrava o outro médico, e o consultório estava lotado de pacientes (nesses meses eu nunca vi isso acontecer com outra paciente). Eu já pensei: “a coisa não tá boa, pois para ela sair da sala dela, vir pra sala dele, 2 médicos no mesmo local, acompanhando meu exame, sendo que o consultório está lotado... o meu caso deve estar grave!”. Neste exame, fui informada que, por enquanto, não havia necessidade da cirurgia, mas que 3 dias após eu deveria repetí-lo, e assim por diante, um monitoramento bem rígido. Foi quando no sábado, 05 de outubro de 2013, durante a realização deste exame, meu maior medo aconteceu: o médico informou que houve uma alteração no resultado, e que eu deveria ser submetida a uma cesariana de emergência. Ainda me lembro dos dizeres dele: “Houve uma alteração no exame. O fluxo não está passando corretamente e está afetando o feto, precisamos interromper a gestação.” A palavra INTERROMPER me destruiu naquele momento. Senti muito, mas muito medo, que tomou conta de mim. Na mesma hora, ele ligou para a minha médica e informou a situação, e que ambos fariam minha cesariana no dia seguinte. Enquanto a secretária do consultório tentava reservar a cirurgia para aquele dia mesmo, eu fui para fora dali e não me contive, chorava incessantemente, sendo amparada pela minha irmã e minha mãe. Logo depois, minha mãe me informou que a secretária disse que não havia vaga para mim na maternidade onde escolhi fazer o parto, e que naquele local foi disponibilizada a vaga para o dia seguinte, domingo, logo pela manhã, às 09 horas, e eu deveria estar de jejum, até de água, por 6 horas.

Após eu sair do consultório, minha mãe entrou novamente no consultório e perguntou ao médico, “sem rodeios”, quais eram os riscos para mim e minha bebezinha, sendo informada que pra mim não havia riscos, eram mínimos, como de qualquer cirurgia, mas caso demorasse mais 3 dias pelo menos, eu corria o risco de perder a minha princesa.

Naquele momento, eu sentia tanta coisa junto: medo, angústia, ansiedade... tanto sentimento que me deixava agoniada! Uma tristeza tão grande por saber que não poderia pegar a minha filhinha nos braços, pois ela seria internada imediatamente após sair da minha barriga, as malinhas da maternidade que preparei com tanto amor e carinho, que não seriam utilizadas. Só pedia forças a Deus e à Nossa Senhora naquele momento difícil!

No dia seguinte, fomos para a maternidade eu, meu marido, minha mãe e minha sogra. Enquanto estávamos no apartamento, uma enfermeira muito simpática a atenciosa me pediu a primeira mudinha de roupas da Ellen, e pra minha “sorte”, meu marido levou as malinhas da Ellen, por precaução. Eu questionei, dizendo que ela nasceria prematura e não usaria roupinhas naquela situação, mas a enfermeira falou: “Vamos ver né, eu já vi casos de bebês que nasceram prematuros e não foram pra UTI Neonatal”. Confesso que fiquei esperançosa com aquela frase, quem sabe minha Ellen também não precisasse de UTI. A esperança é a última que morre!

Tiramos minhas últimas fotos como grávida, do enfeitezinho na porta com o nome dela, até então estávamos todos tranquilos, já havia me trocado, esperando a enfermeira me buscar, quando às 09h30min, minha médica chegou e fui encaminhada ao centro cirúrgico. No momento em que me dirigia pra lá, um bebê havia nascido e estava no berçário, sendo “babado” por familiares e amigos, era tão bonito ver aquela cena! Eu só pensava: “seria tão bom acontecer isso com a Ellen também!”. Mas eu já sabia que não aconteceria, porque ela seria encaminhada diretamente para a UTI Neonatal.

A cirurgia

Fui caminhando até a sala de cirurgia, onde encontrei minha médica, um anestesista, um pediatra e duas enfermeiras. Subi uma escadinha para sentar na mesa de cirurgia e o anestesista aplicou soro na minha mão esquerda, disse que doeria mais que a anestesia, e que não era para eu me preocupar. De fato, doeu um pouco, mas eu já estava acostumada com injeções de soro desde que fui diagnosticada com diabetes, estava tudo normal até então.

Permaneci sentada na maca, já com o soro, e ele pediu para eu ficar imóvel, enquanto a enfermeira segurava meu ombro para me ajudar a ficar imóvel. Tateou minha coluna e disse que eu sentiria apenas um “geladinho”, mas não deveria me preocupar. Senti, de fato, um geladinho nas costas, mas não senti nada da agulha da anestesia, e rapidamente as enfermeiras pegaram minhas pernas e as deitaram na maca, pois eu já sentia um crescente formigamento nelas. Foi colocado um pano pendurado abaixo do meu pescoço e meus braços apoiados ao lado da maca. Neste momento, senti ainda as enfermeiras aplicando um líquido “geladinho” na minha barriga, acredito que era iodo, para esterilização.

Então, escutei o médico obstetra, marido da minha médica, entrar na sala. Confesso que fiquei um pouco mais tranquila, pois seriam dois profissionais desta área cuidando de mim e da Ellen, ao mesmo tempo da tranquilidade, percebi a gravidade da situação, visto que disponibilizar dois médicos da mesma área para uma cirurgia demonstrava que não era bom sinal.

A equipe foi muito atenciosa e a todo instante brincava comigo, tentando me tranquilizar e descontrair. O anestesista sempre me perguntava como eu estava, checando meus sinais, e o pediatra já havia me alertado, antes do início da cirurgia, que teria a possibilidade de eu não poder ver a Ellen, pois ela seria encaminhada diretamente à UTIN para ter os cuidados necessários. “No fundo, no fundo”, eu tinha esperanças de poder ao menos dar um beijinho na minha filha, mas o que aconteceria só cabia a Deus saber.

Meu marido seria meu acompanhante durante a cirurgia, mas foi aconselhado pela minha médica a não assistir o parto, pois ela não garantiria o resultado do nascimento da Ellen, e não saberia a reação dele. Sendo assim, ele acatou o conselho dela e não entrou no centro cirúrgico comigo. Ao ser deitada na maca, lembro do que disse ao anestesista, chorando: “Queria tanto que meu marido estivesse aqui comigo!”

Pois bem. A cirurgia iniciou, não senti nada, apenas algumas pressões desconfortáveis, pois mexiam dentro de mim. Após alguns minutos, escutei um choro baixinho, sucedido de um choro bem forte, alto, ao mesmo tempo em que minha médica disse: “Que beleza!”, e eu chorei de alegria, felicidade, tranquilidade por saber que minha pequena estava chorando, e isso sempre é bom sinal, conforme dizem os médicos, e ela foi transferida ao pediatra no mesmo instante, e eu acompanhava com o rosto virado, vendo-a ser analisada por ele e uma enfermeira, que tirava fotos com a câmera repassada pelo meu marido. O pediatra falou que eu poderia dar um beijinho nela, e a enfermeira tirou ainda duas fotos dela ao meu lado, e logo após ela foi encaminhada à UTIN, pois seria prejudicial à ela ficar mais tempo fora da incubadora.

Após este momento de pura emoção, fiquei por não sei quanto tempo naquela sala, doida para ir para o meu quarto, saber mais notícias da minha princesa, mas parece que o tempo parou ali. Não passava de jeito nenhum, enquanto os médicos continuavam a operação, acho que me “fechando”, me “costurando”... intermináveis minutos! Depois fiquei sabendo, pela minha médica, que eu havia perdido muito sangue na cirurgia, acho que foi este o motivo da demora na conclusão do procedimento.

Lembro de, após terminar a cirurgia, ser encaminhada para meu quarto, e quando saí do centro cirúrgico, vi várias pessoas conhecidas, meus pais, minha sogra, meu marido, minha irmã, cunhada, amigos, ao mesmo tempo em que estava “grogue”, não sei qual medicação me deram após a cirurgia.

Lembro de ver, já no meu quarto, minha irmã desmaiando, coitadinha. Estava sob uma carga de estresse muito grande nos dias anteriores, junto comigo, sempre me apoiando.

Lembro da Dona Jaci, uma pessoa iluminada, de grande coração, segurando a minha mão e não deixando eu levantar a cabeça para ver o que estava acontecendo, pois não poderia fazer isso devido à anestesia. Enfim, neste momento, não recordo mais o que aconteceu, pois adormeci.

O pós-operatório e a primeira visita à Ellen

Ao acordar, de um sono não profundo, caberia melhor dizer que foi um cochilo, já estava sentindo minhas pernas “formigarem” novamente, apesar de ainda não sentí-las totalmente, perguntei sobre a minha filhinha, como estava. A minha mãe começou a relatar como foi emocionante quando ela saiu do centro cirúrgico, nas mãos do pediatra, sendo vista por todos que estavam no meu quarto, aguardando o resultado do parto.

O meu quarto estava localizado exatamente em frente à entrada/saída do centro cirúrgico, por onde os médicos têm acesso (seriam os bastidores), pois a entrada oficial do centro cirúrgico era logo mais à frente, onde os pacientes têm acesso.

Continuando o relato de minha mãe, o pediatra, assim que saiu com a Ellen da sala da cirurgia, estava se dirigindo à UTIN, quando saiu do centro cirúrgico da entrada não-oficial e se deparou com meu marido, do lado de fora do meu quarto, mostrando-o a nossa pequena guerreira, sendo surpreendido por um alvoroço de pessoas emocionadas ao ver a minha princesinha. Não pôde ficar muito tempo, pois ela necessitava de cuidados especiais, correndo contra o tempo, levando-a para a UTIN. Após este relato, me emocionei, sem desesperos, mas com uma vontade imensurável de ver a minha filhinha, pois meu contato com ela foi tão curto, tão obrigatoriamente apressado.

O horário de visita dos pais à UTIN é sempre às 16h, diariamente, com a duração de aproximadamente 30 minutos. Porém, neste dia, apenas o meu marido pôde vê-la, pois eu estava muito fragilizada da cirurgia e não pude descer até lá, mas pedi que ele tirasse fotos para eu poder matar a saudade da minha pequena. Ao término da visita, ele me trouxe as fotos, e me emocionei ao ver a minha guerreirinha dentro da incubadora, já limpinha, com fraldinha e touquinha. Tão pequena, tão frágil, mas tão linda! Senti um amor por ela maior que tudo que já senti na minha vida. Nunca achei que amor de mãe fosse tão grande desse jeito, a tal ponto em que somos capazes de dar a própria vida por um filho!

Conhecendo a UTIN

No dia seguinte, já conseguia descer da cama, com auxílio da enfermeira ou da minha mãe, mesmo com muita dificuldade, e caminhava com muita lentidão, pois fui aconselhada a fazer isso para facilitar a recuperação. Já sabia que o horário da visita à UTIN era às 16 horas, mas ainda faltava tanto tempo pra chegar esse horário! Minha mãe foi lá e conversou com a chefe do berçário, e ela abriu uma exceção para mim, pois eu ainda não tinha visto minha bebezinha após ela ser internada. Fui tomada por uma alegria enorme, pois veria minha Ellen, mesmo que rapidamente e não pudesse segurá-la em meus braços.

Com muita dificuldade, cheguei no andar de baixo, onde fica a UTIN. Preferi ir andando, lentamente, ao invés de usar cadeira de rodas. Antes de entrar lá, temos que observar uma série de procedimentos rígidos e necessários para adentrar no local, pois qualquer deslize pode ser fatal para aqueles bebês tão pequenos e frágeis, porque o risco de infecção é grande. Temos que colocar máscara cirúrgica, prender os cabelos e colocar touca, retirar brincos, anéis (inclusive a aliança), pulseiras e todos os adereços e/ou objetos junto ao corpo, pois são os que mais acumulam bactérias, lavar muito bem as mãos e braços e, por fim, colocar o avental esterilizado e passar álcool líquido ou em gel nas mãos, para finalmente entrar na UTIN. Após fazer tudo isso, já dolorida com os pontos da cirurgia, e andando com dificuldade, entrei ali e vi a minha vidinha, dentro da incubadora, tão linda, só de fraldinha e touquinha, e não me contive: chorei baixinho ao vê-la, tão frágil, com aquele CPAP (aparelho que, através de máscara nasal, ajuda o bebê a respirar, mantendo a via aérea desobstruída). Não pude ficar muito tempo, apenas uns 2 minutos, pois ainda não era o horário de visita, mas já havia ganhado o meu dia, ao vê-la.

Mais tarde, junto com meu marido, voltamos lá no horário da visita, e deparamos com o mesmo quadro da manhã. Sentíamos a mesma agonia da nossa princesinha, com aquele CPAP em seu narizinho, incomodando-a, tanto é que ela, mesmo dormindo, tentava retirá-lo várias vezes, sendo necessário, nos dias seguintes, prender seu bracinho na fraldinha, para ela não tentar retirar aquele aparelho incômodo, porém, extremamente necessário para sua recuperação.

Nos dois primeiros dias de sua internação, ela foi submetida à dieta zero, apenas tomando soro na veia, e, com isso, ela perdeu peso, entrando nas estatísticas já informadas pela médica plantonista, de que todo recém nascido prematuro, ao ser internado em UTIN, perde cerca de 10% do próprio peso. Não nos foi divulgado o peso mínimo que ela havia adquirido, mas, com certeza, chegou a pesar menos de 1 kg. Quando os prematuros estão com o CPAP, suas pesagens são realizadas apenas 1 vez por semana, visto que é necessário retirar toda a aparelhagem que está no bebê para poder pesá-lo, e isso causa muita fadiga, estresse e até mesmo perigo ao pequenino, pois o oxigênio lhe falta neste momento. Ao sabermos disso, nós mesmos falamos para a médica plantonista que não desejávamos que ela fosse pesada constantemente, até sair do CPAP e ter mais conforto para sabermos sua pesagem, imaginamos o quão sofrido deveria ser para ela, ficando sem oxigênio, mesmo que momentaneamente.

A ordenha do leite materno e alimentação por sonda

Sim, não se assustem e podem rir deste nome: ORDENHA. Eu mesma achei extremamente estranho atribuírem este nome ao procedimento de retirada do leite materno. Conversando com uma das mães de lá, comentamos o quão estranho era esse nome. Lembro-me dela dizendo: “Parece que somos todas vacas sendo ordenhadas.” E de fato, se formos analisar bem, tirando as piadinhas de mal gosto, não há nada de ridículo nisso, pois as vacas alimentam seus bezerrinhos e tenho a certeza que têm o sentimento materno assim como qualquer ser vivo que se reproduz, encaixando-se o ser humano neste círculo.

Ao lado da porta de entrada da UTIN, tem a sala reservada para a ordenha do leite, o Lactário. Foi para lá que fui direcionada no dia da minha alta, exatamente 3 dias após o nascimento da Ellen, para estimular minha produção de leite, que até então não havia acontecido. Ali eles possuíam duas bombas elétricas de sucção de leite. No início, achei estranho entrar em um lugar, juntamente com mais mulheres e uma enfermeira, que nos auxiliava, retirando os seios pra fora e fazendo a ordenha, mas depois aprendi que temos que superar a timidez e lembrar que tudo é em prol do bem-estar e recuperação dos nossos pequeninos, além do fato de todas nós estarmos “no mesmo barco”, se tornando algo rotineiro e normal em nossas vidas.

É realizada a estimulação das mamas, através deste aparelho, e, a princípio, nada sai, nos dando a impressão que nada vai sair nos próximos dias, mas como a enfermeira falou que era normal, não “encuquei” com isso. Meu marido comprou a bombinha manual para eu continuar a estimulação em casa e quem sabe poder levar o máximo possível do meu leite para a minha princesa, assim que saísse. A médica plantonista, no 4º dia de internação da Ellen, nos informou que havia começado a dietinha dela, com 2 ml de leite, e isso nos deixou muito alegres. Como eu ainda não estava produzindo leite, apesar de continuar a estimulação, eles lá forneciam o leite em pó especial para ela, de 3 em 3 horas, os 2 ml que ela havia começado a tomar, mas desde já a médica nos informou que o leite materno é o mais indicado e a mais forte alimentação para ela, e isso me deixou firme no propósito de conseguir tirar leite para minha pequena, o que aconteceu no dia seguinte, em casa, com a bomba manual. Fiquei tão feliz com aqueles 2 ml, guardei na geladeira e levei para a maternidade, pois conforme as instruções na caixa da bombinha, o leite retirado pode ser armazenado na geladeira em até 24 horas e até 15 dias no freezer.

Só que a enfermeira do lactário disse que não pode levar leite de casa, ele deve ser retirado nos horários específicos pela UTIN, somente no lactário, e eu tive que jogar fora o leite que havia trazido. Pois bem, assim o fiz e tentei retirá-lo naquele local, e pra minha alegria, consegui! Seria a primeira vez que minha Ellen tomaria o meu leite, e fiquei tão feliz com isso!

No dia seguinte, a médica nos informou que havia aumentado a quantidade de leite dela para 4 ml, e isso parecia música para nossos ouvidos, pois significava que ela estava aceitando o meu leite e isso a faria engordar. O lactário possui 4 horários para a ordenha do leite: 08h30min, 11h30min, 14h30min e 17h30min, e eles são cumpridos rigorosamente, não sendo tolerados atrasos. Caso isso aconteça, a mãe é impedida de retirar seu leite e seu bebê é alimentado pelo leite em pó especial.

Fiquei admirada pela determinação e perseverança demonstradas por uma mãe dali, após ouvir sua história. Ela já era velha conhecida de toda a equipe da UTIN, pois já estava ali há mais de 2 meses, todos os dias, os dias inteiros, sem falta. Comparecia naquele local e lá permanecia praticamente o dia inteiro, retirando leite nos horários estipulados. Sua filhinha nasceu pesando pouco mais de 600 g, não tendo muitas chances de vida. Mas nada pra Deus é impossível, e ela foi ganhando peso, aos poucos, saindo dos aparelhos, e hoje está com mais de 1,300 kg. Sua mãe demonstrou e ainda demonstra o quanto é um exemplo de perseverança!

Voltando à minha princesa, continuamos animados com o aumento do leite fornecido, e assim foi seguindo nos próximos dias. Ela tomava antibiótico e soro na veia, numa injeção bem fixada em sua perninha direita. Imagino o incômodo que devia ser, e continuava com o CPAP, garantindo sua oxigenação.

Dizem que a UTIN tem seus altos e baixos. Até então só conhecíamos os “altos”, pois nossa princesa estava aceitando bem a medicação, meu leite, e as médicas plantonistas sempre informavam que seu quadro era estável. Foi quando tive o primeiro “baque”. Ao deslocar ao lactário para retirar o leite, quando havia chegado ao pedido de 10 ml. Lá constava que eu deveria retirar 7 ml, e perguntei à enfermeira se aquela informação não estava errada. Ela disse que não, pois minha pequena havia vomitado na noite anterior e naquela manhã. Fiquei muito triste, pois imaginei que ela não estava mais aceitando o meu leite, mas mesmo assim retirei os 7 ml solicitados. Mais tarde, durante a visita, fomos informados pela médica que isso é normal tanto em prematuros quanto em bebês que nascem no tempo certo da gestação, e que deveríamos nos preocupar caso o vômito fosse amarelado e escuro, mas até então os vômitos dela eram claros, apenas regurgitações de bebês, e, por este motivo, ela diminuiu a dose fornecida.

Aprendi que o vômito e regurgitação são normais, e algumas vezes, durantes nossas visitas, ela vomitou na nossa frente, o que nos causava preocupação, mas sempre vinha uma enfermeira e a limpava com muita destreza e cuidado. Como essa equipe é profissional e cuidadosa! Essas enfermeiras e médicas possuem um dom para isso, manuseando com uma prática surreal aqueles seres tão pequeninos e magrinhos, sem machucá-los. Confesso que toda vez que vejo as enfermeiras cuidando dos nossos bebês sinto o quanto sou despreparada e tenho medo de “não dar conta do recado”, quando a Ellen for para casa. Como será para dar banho nela, será que vou conseguir? Essa era uma das várias perguntas que me fazia diariamente, ao observar a destreza daquelas profissionais. Gostaria de ter apenas uma pequena parcela daquela sabedoria e tato com os pequeninos. Mas sei que Deus vai me dar sabedoria na hora certa e não deixarei de ajudar minha princesinha sempre que ela precisar.


A retirada do CPAP

Após exatos 7 dias de internação, na segunda-feira, 14 de outubro de 2013, ao chegarmos na incubadora da nossa pequena, deparamos com uma cena linda: ela estava sem o CPAP! Imaginem a emoção que sentimos. O meu marido encheu os olhos de lágrimas e eu chorei um choro gostoso, alegre, e só quem passa ou passou por isso sabe o gostinho desse sentimento. Nossa guerreira provou mais uma vez que veio ao mundo pra fazer a diferença, mostrando sua garra e força, não desistindo de ficar boa, através desta significante melhora. Pudemos ver que ela é loirinha, igual a mim, pois havia retirado a touquinha que prendia aquele aparelho.

A médica plantonista nos informou que ela respondeu bem à retirada do CPAP, assim permanecendo, sinal que os pulmões estavam bem formados e funcionavam em plena harmonia. Lembrei na hora: “Santas injeções que tomei!”. Graças a elas os pequenos pulmões da minha princesa se formaram com maior rapidez!

Antibióticos, soro, perda e aumento de peso

Os dias foram se passando, e em todos eles a minha filha sempre podia contar com a minha presença ali, pois era a hora mais esperada do dia pra mim, para poder vê-la e tocá-la. O meu marido, sempre que podia, também estava lá comigo, mas em alguns dias não podia, pois deveria trabalhar ou frequentar as aulas do curso de especialização que havia começado, e sua licença paternidade já havia terminado.

A Ellen está nos antibióticos desde o 3º dia de internação, para evitar infecções, e essa medicação tem a duração de exatos 10 dias, findando hoje, 20 de outubro de 2013. A partir de amanhã, com fé em Deus, ela sairá dessa medicação e do soro, o que facilitará para ela ganhar mais peso, o único requisito necessário para ela ter alta e ir para casa!

Durante a visita de ontem, pela primeira vez, o meu marido pôde vê-la com os olhinhos abertos, e assim ela permaneceu durante nossos 30 minutos de visita. Fez vídeo, mexeu com ela, enfim... estava encantando pela beleza da nossa princesinha loirinha dos olhos azuis escuros! Uma das enfermeiras elogiou a beleza e graciosidade dela, e disse que acha que os olhos vão clarear e ela deve ficar com os olhos iguais aos meus: azuis claros. Não vou negar que acho isso muito bom, bonito, e quem não quer ter olhos azuis, não é mesmo?! Mas, sinceramente, do fundo do meu coração, isso para mim é irrelevante, importando de verdade a total recuperação dela e sua saúde! Do que adiante ter olhos claros e não ter saúde? Nosso foco está na recuperação total dela, e isso Deus vai nos conceder, assim como Ele já está nos amparando com as visíveis melhoras dela!

O dia 23 de outubro foi um dos dias mais felizes na UTIN. Pela primeira vez, após 17 dias do seu nascimento, pude pegá-la no colo! Ela estava sem o respirador, sem os antibióticos ou qualquer outra coisa que a impedisse de sair da incubadora, então, pude pegá-la. Quando a enfermeira perguntou se eu desejava pegá-la, nem acreditei. Sentei numa cadeira ao lado da incubadora, e a enfermeira, com toda habilidade pegou minha florzinha e a entregou para mim. Foi uma sensação tão gostosa, emocionante, que chorei de alegria ao colocar minha filhinha no colo. Só quem é mãe sabe a sensação de pegar seu filho pela primeira vez! Imagine você ficar mais de duas semanas somente olhando seu filho em uma incubadora, sentir muita vontade de acalentá-lo e não poder? É horrível, é triste, é CRUEL. Mas é necessário, não discuto.


Cheguei em casa com a sensação de alma renovada, mais alegre, mais esperançosa. Isso foi mais um sinal que Deus está ao nosso lado, sempre, e me permitiu segurar minha filhinha, nem que fosse por alguns instantes, durante a visita daquele dia. Dia feliz!

Os dias foram passando, e ela ganhando a média de 25 gramas por dia. Excelente sinal, e se continuasse dessa forma, pelas nossas contas, ela ficaria no máximo 15 dias, aproximadamente 2 semanas. Mas nem tudo são flores... lembram do que eu disse acima, dos altos e baixos? Pois é, chegou o dia em que minha bebezinha começou a manter o peso, e dois dias seguidos perdeu 25 gramas. Parece pouco, mas para quem passa ou passou por isso sabe do que estou falando... é muita coisa! As médicas plantonistas informaram que ela não estava vomitando hora alguma, que isso era “coisa de recém-nascido”, mas não queríamos acreditar que isso era normal, pois ela estava tão bem, ganhando peso, sem antibióticos e soro, sem o respirador. No terceiro dia após as perdas de peso, decidimos pedir à medica que fosse realizado um exame sanguíneo para verificar o que estava acontecendo de anormal, foi quando Deus mostrou mais uma vez que nunca nos abandona: naquele dia fomos informados que ela havia ganhado 35 gramas! Só fazíamos agradecer à nossa pequena pelo esforço em continuar com a força que sempre demonstrou possuir! E assim manteve, no dia seguinte, mais 25 gramas, depois 35, além de sermos surpreendidos pela fonoaudióloga de lá, que nos informou que naquele dia havia começado o treinamento com ela da “chuquinha”, pois ela ainda está tomando leite na sonda e precisa aprender a tomar na mamadeirinha e depois mamar no meu peito, e para isso, deve aprender a sugar e respirar. Neste primeiro dia do “treinamento”, ela tomou 8 ml na “chuquinha”, depois ficou cansadinha para respirar. Ela informou que isso é normal, até porque é o primeiro dia deste aprendizado. Mais uma notícia maravilhosa! Agora é continuar esta prática todos os dias, para logo poder mamar no peito e ganhar peso mais rapidamente.

Foram passando os dias, a minha princesa ganhando peso, mamando na chuquinha, até que eu aprendi, com a ajuda da fonoaudióloga, a amamentar. Difícil, pois para um bebê prematuro a sucção é uma tarefa árdua e cansativa, pois ele ainda deveria estar dentro do ventre da mãe, e não fazendo esse tipo de esforço. Mas conseguimos.

O dia mais sonhado enfim chegou: O DIA DA ALTA DA UTI NEONATAL! Foi o dia 12 de novembro de 2013, ao pesar 1,800 kg, quando pudemos levar sua saída de maternidade e trazer nossa princesa para casa! Foi o segundo dia mais feliz da minha vida, pois o primeiro foi o dia de seu nascimento.

Hoje, 49 dias após seu nascimento, estamos mais alegres e felizes em casa, nos sentindo completos com nossa filha! É claro que ficamos um pouco aflitos e preocupados com o “andar da carruagem”, mas qual pai e qual mãe são os mesmos após o nascimento de seus filhos? Tudo na vida é um constante aprendizado, e chegou a nossa vez de aprender a ser pai, ser mãe, ser enfim uma família unida e completa!

Finalizando este interminável relato, quero deixar a mensagem aos pais de bebês prematuros internados em UTIs: NUNCA percam a fé e a força que às vezes vocês pensam não possuir! Deus faz milagres todos os dias em nossas vidas, e nossos bebês provam isso, nos fazendo dar valor a medidas tão pequenas, como 1 ml, 1 g. Não se deixem abalar pelos altos e baixos a cada dia, depois do relatório médico, porque nossos bebês precisam da nossa energia positiva, das nossas orações, da nossa força! É claro que não somos “de ferro”, e sim, choramos, expomos nossas emoções, medos e angústias, e isso faz bem, pois desabafamos, mas que isso seja passageiro, porque nossos príncipes e princesas sentem as nossas emoções!!

Desejo, do fundo do meu coração, que Deus abençoe a cada um de vocês e que o mais rápido possível cada nenenzinho de UTI tenha alta, bastante saúde e vá para casa alegrar muito as vidas desses papais e mamães abençoados!

Abaixo segue uma oração às mães de bebês internados em UTIN. Pesquisando pela internet a encontrei. Muito linda.

Abraços a todos!”

ORAÇÃO PARA TODAS AS MÃES DE BEBÊS INTERNADOS EM UTIN

Papai do céu, toma conta das mamães de UTI.
Cuida de aliviar seu sofrimento.
Faz com que nunca desistam de sorrir,
E traga para elas alívio e alento.
Papai do céu, não as permita nunca desistir,
Faz da sua fé o seu alimento,
Prepara seus corações para o que há de vir
Envolva-as com ternura e acolhimento,
Abençoa suas vidas, Pai amado.
Que é uma só com a do filho internado,
Esperando a cura e a volta ao lar...
Cuida das mamães de UTI... mães preciosas
Cuida das mamães de UTI... mães dolorosas
Mães que precisam tanto do seu cuidar.
Amém.

Por Luis Tavares

Fonte: BabyCenter

Pollyanna, mãe da Ellen

Responsabilidade do conteúdo por conta do autor, não reflete o posicionamento da ONG. Não nos responsabilizamos pela veracidade dos fatos.

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