

06 de Março de 2025
A Pequena Heloisa
Nas semanas que antecederam o nascimento da Heloísa, com a Denize com o diagnóstico de pré-eclâmpsia, tomei ciência de algo que, ao que me parece, só entra no nosso radar quando vive a circunstância. Ninguém fala da prematuridade até passar por ela. Quando fomos internados, e digo aqui que fomos porque, na época, vivemos juntos no hospital, busquei o que pude de informação sobre a prematuridade para, de alguma forma, entender o que viveríamos. Nas pesquisas, encontrei a ONG Prematuridade.com. Nesse site, encontrei diversas informações, projetos e, de forma muito especial, depoimentos de mamãe e papais de crianças prematuras. Algumas delas, prematuras extremas, outras com alguns dias de prematuridade. Todos os depoimentos, lógico, me prepararam para o que viveria pelos próximos meses. Aqui eu escrevo no singular porque a Denize, mesmo com toda a tempestade acontecendo, nasceu preparada e pronta para o que viria. Era o spoiler da mãe espetacular que é. Através da ONG tive os primeiros contatos com apneia da prematuridade, displasia broncopulmonar, enterocolite necrosante, hemorragia intracraniana, persistência do canal arterial anemia, transfusão, enfim... todas as circunstância que, possivelmente, enfrentaríamos na UTI Neo. Na época, ler sobre o tema me preparou, sem dúvida, para o que viria. Dias após a internação, com a gravidade aumentando, nasceu Heloísa, com 29 semanas e 1.040 gramas.
A nossa Heloísa. Essa foto é um dos primeiros registros que tenho dela no meu celular. Não, não fui eu que tirei. Nessa hora, eu chorava tanto quanto ela. A anestesista, gentilmente, vendo a minha situação, tirou o celular da minha mão e fez esse lindo registro dela. Registro puro, chorando - como ninguém na sala de parto esperava, lutando desde o seu primeiro segundo de vida para continuar vivendo. Dia após dia, praticamente morando no hospital, enfrentamos cada uma das batalhas antecipadas pelos relatos emocionantes na ONG Prematuridade. A montanha russa de emoção com os dias bons e os não tão bons, os mililitros de leite a mais na alimentação, os remédios usados em menor quantidade, os equipamentos médicos que, aos poucos, foram se desconectando da Heloisa e, claro, o peso dela que foi semanalmente aumentando, eram motivos de festa. Cada grama a mais era um novo fôlego de esperança de que sairíamos daquela situação. Os dias foram passando, as filas da entrada UTINeo já não eram mais frias e desconhecidas, as amizades com as mães e pais de outros bebês foram nascendo e com quase 30 dias de vida chegou o esperado momento: ver a Heloisa fora da incubadora, no colo da mãe, por poucos minutos. Que dia, amigos e amigas! Que dia espetacular para viver. 11 dias de monitoramento pre hospital, 7 dias de internamento na sala preparto, 44 dias de UTINeo, 4 dias de quarto para, finalmente, chegar o nosso dia. O dia de sair com a Heloísa do hospital. O dia de ir para casa.
Obrigado, Deus. Vencemos. Vencemos cada obstáculo da prematuridade e hoje estamos prestes a completar um ano de vida da Heloisa. O motivo desse texto é para que os novos papais e mamães de UTINeo também possam encontrar esse relato na ONG Prematuridade, assim como eu. Relato de esperança de que tudo dará certo e, ainda que pareça distante, o dia de ir para casa também chega para nós.